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Maranhão já registrou 11 assassinatos entre LGBTI+

“Eu não conseguia entender o porquê de estar ali no chão sendo agredido fisica e verbalmente por pessoas que eu nunca tinha visto na minha vida”. O relato é do estudante Hitalo, de 22 anos, vítima de homofobia em Imperatriz.

Ele foi espancado depois de esbarrar em um grupo de cinco homens no começo deste ano. “Estava chegando na esquina e esbarrei em um rapaz, mas pedi desculpas e continuei caminhando. Eles começaram a falar coisas depreciativas como ‘o viadinho tá com pressa, é?’, ‘gayzinho de merda’, ‘boiolinha’, ‘bichinha’. Eu me sentia péssimo e incapaz de me defender, mas sabia que eles iam fazer alguma coisa comigo. Ainda tentei sair, mas um deles segurou pelo meu braço e mesmo eu pedindo desculpas, ele não me soltou. Comecei a gritar por socorro, mas um deles me deu um murro no estômago e fiquei sem ar. Eles começaram a me bater enquanto diziam frases como ‘você não deveria nem viver”, ‘Vai aprender a gostar de …’.

Hitalo é mais uma vítima que não entrou nos números oficiais da Secretaria de Segurança Pública do Maranhão ou do Disque 100. A denúncia nunca foi formalizada, mas as marcas da agressão que sofreu permanecem até hoje. Em um cenário ideal, onde as agressões por violência contra a população LGBTI + são registradas, alguns dados indicam as faces dessas agressões no estado.

Violência contra a população LGBTI+ no Maranhão

Um levantamento da Associação de Travestis e Transexuais do Maranhão em parceria com a Secretaria de Estado dos Direitos Humanos aponta que, somente neste ano, 11 pessoas da comunidade LGBTI+ foram assassinadas em diversas cidades do território maranhense. No mesmo período, outras duas sofreram tentativas de assassinato e ainda foi registrado um caso de agressão física. Apesar de chocantes, os números ainda não condizem com a realidade. Assim como o Hitalo, muitas outras vítimas acabam não denunciado por diversos fatores como medo, insegurança e falta de um serviço especializado.

Os dados maranhenses são incompletos. O Governo do Estado, por exemplo, não registra separadamente casos de assassinatos de gays, lésbicas, bissexuais, transexuais e travestis. Todos os registros entram no número total de homicídios, o que dificulta uma análise mais profunda desse cenário de violência no Maranhão.

“A gente sente a necessidade desses dados para estabelecer e cobrar políticas públicas para a população LGBTI+. Essa deficiência interfere na implantação de medidas que venham assegurar os direitos dessa população de forma efetiva”, ressalta a presidente da Amatra, Andressa Sheron.

E o nordeste?

Um estudo publicado na Revista Salud Pública investigou o cenário da violência física contra a população LGBTI+ no interior do nordeste brasileiro. Os dados também são de 2017 e apontam que vizinhos e desconhecidos somaram cerca de 75% das agressões contra essa população, seguidos de familiares. As ruas também são os espaços com maior volume de agressões.

Dados abertos do Brasil

A negligência com esses dados não é só uma dificuldade do Maranhão. No Brasil, os dados nacionais mais recentes são de 2017 e trazem um panorama da realidade que a população LGBTI+ vive. De acordo com um estudo realizado pela Organização Não-Governamental Grupo Gay da Bahia, que analisa denúncias e registros de violência feitos em todo país, em 2017 houve um aumento de 30% de mortes entre essa população. Foram 445 mortes registradas. A maior parte dos registros é de assassinatos, mas no mesmo ano 58 suicídios também foram contabilizados. O crescimento é em comparação ao ano imediatamente anterior.

O mesmo levantamento apontou que mais de metade dessas violências ocorreram nas ruas, sendo responsável por 56% dos registros apontados dentro do levantamento feito. Em segundo lugar, com 37%, aparecem as ocorrências dentro de casa. Já um outro mapeamento da Fio Cruz, que faz um recorte entre os anos de 2015 e 2017, apontou que 66% das agressões registradas contra a população LGBTI+ foram cometidas por homens. Em pouco mais de 27% do universo analisado, os agressores possuiam um vínculo íntimo com a vítima. Pessoas completamente desconhecidas somaram, dentro dos três anos, cerca de 16%. O levantamento não esclarece quais outras situações compõem a maior parte das agressões.

Mais relatos

“Eu estava na Beira-Rio com uns amigos próximo ao palco onde tem eventos culturais. Nós estávamos sentados no chão e do outro lado do palco havia outras pessoas. Em algum momento eu senti uma sacola atingir minhas costas e dentro dela tinha um animal morto. As pessoas que estavam do outro lado ficaram sorrindo. Fui até lá perguntar por que eles tinham feito aquilo e um dos homens me disse que ‘viado tem que morrer’. Logo em seguida ele já me acertou com um soco no nariz e eu caí no chão, comecei a sangrar. Olhei pra ele e perguntei por que eles estava fazendo aquilo, momento em que ele me deu um soco na boca. Lembro de pouca coisa, mas sei que ele foi retirado às pressas do lugar em um carro particular e eu fiquei quase desacordado”, conta o técnico em enfermagem Jesus Leonardo, também de 22 anos.

Ananda Portilho
Ananda Portilho
Bacharela em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Federal do Maranhão, em Imperatriz. É repórter e âncora no Imperatriz Online. Apaixonada por futebol, animais e boas histórias.

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